sexta-feira, 6 de junho de 2008

Conversa Caipira

 




Olha, moço,

aqui é isso que o senhor está vendo:montanhas,um monte delas,iguais e diferentes.
O senhor me entende,
iguais pela natureza de proteger a gente contra o mundo,
de guardar algum sossego.
Diferentes no particular de cada uma
e no jeito de cada um enxergar o que vê.
O senhor sabe,
tudo pode ser assim ou assim:
pedra, buraco, distância, bicho, mato.
O perto e o longe, o fundo e o raso,
o lugar e o fora do lugar.
Se o senhor me permite,
até o bonito e o feio,
o direito e o torto
Tudo tem o lado de lá e o lado de cá.
O que a gente vê e o que não vê:
as curvas, os escondido...
É assim com as montanhas,
assim é com as pessoas.
Todo mundo, no fundo, é mais do que parece
ou menos do que aparenta.
Assim é também com as histórias:
cada um conta do seu jeito
e entende da sua maneira.
É assim nos desencontros:
o que um fala, o outro escuta a metade
ou o dobro.
No pão-pão, queijo-queijo
aqui é o que acontece com a gente todo dia:
o de costume e o sem aviso.
Uma chuva, um desassossego,
uma tristeza, uma alegria,
o que Deus manda - de bom e de ruim -
tudo misturado.
A gente é que separa
e leva de noite pro travesseiro.
No outro dia,
se Deus estiver de acordo,
o galo canta, a gente espreguiça
e a vida prossegue.

(Jurani Garcia)
jornalista mineiro

Identidade





"Sou aquele
que gastou a sua história
na beira de um rio."

(Manoel de Barros)