sábado, 13 de agosto de 2011


AS MÃOS DE MEU PAI


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já de cor de terra

- como são belas as tuas mãos

pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da

nobre cólera dos justos

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza

que se chama simplesmente vida.

E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços

da tua cadeira predileta,

uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,

vieste alimentando na terrível solidão do mundo,

como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los

contra o vento?

Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das

tuas mãos!

E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...

essa chama de vida – que transcende a própria vida

...e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.


Mario Quintana